{... directamente do corpo e às escuras, mas sempre presentes: o tacto, o olfacto, a audição. é a cinza prata-cinza mate que subimos e descemos, vezes sem conta, a janela que nos leva ao cimo desta serra. estimulados os sentidos... todas as memórias... se diluem neste eterno nevoeiro. às escuras, ficamos sós. sem cores, ficamos sós. mergulhados em blanc nacré, à escuta da inconstante e supersticiosa noite, para que o canto da coruja nos traga daquele sonho: a cores. e é assim que subimos e descemos o pensamento... até que... supreendidos pelos sentidos da natureza, acorde também ela e definitivamente deste sonolento inverno pintado: a blanc nacré.}
31.1.09
29.1.09
[... verde musgo... ]
{... na vertigem de todas as linhas rectas, erguem-se casas na sobreposição das pedras que aconchegam esta pequena aldeia retirada dos tempos de viriato: numa só alma. exóticas esquadrias rasgam os céus e a serra a verde musgo. tudo nasce dum único traço que nos preenche neste imenso vazio. envoltas em rodopiantes nevoeiros, as pedras levam-nos a novos caminhos apontando quase sempre misteriosos mapas. e é através do sábio equilíbrio adquirido no passado que se sabe escalar o presente e o futuro neste tempo escorregadio. manifesto o verde, as redondas pedras da montanha mudam de formas. repetitivamente. na vertigem de todas as linhas rectas, o plano vira redondo e tudo o que é redondo: traz aguçadas partidas a quem passa. e se o povo acordar e descer a serra... cansado de tanto nevoeiro, que segundo dizem... assim lhes foi imposto... por alguém... que em rituais alianças os condenou a este mágico silêncio!... quebrado o cinza, o verde musgo pintará para todo o sempre: todas as pedras da serra da cor do céu.}
26.1.09
[... Pássaros de Pedra... ]
{... no povoado das casas de pedra, todas as vidas são solitárias. há lendas e mil estórias de encantar. encostados ao céu, entregam-se ao tempo e enterram os sonhos na terra que cultivam. afundam-se nas cores da montanha para envelhecerem na encosta da serra. trazem na alma o vento e conhecem todas as estrelas de cor. o povo das casas de pedra olha sempre com estranheza quem por esta serra passa. porque entre as pedras e os paus que se abeiram do céu, eles são guardiões de misteriosos segredos. há gerações que abraçam novas terras em longínquos voos. nas memórias, levam os cheiros estonteantes das fogueiras e os animais que os acompanharam a vida inteira. quisera este povo sonhar sempre de novo. quisera, este povo que a pedra fosse vida: semente de outro mágico lugar. }
25.1.09
[ ... Tierra Sombra Tostada... ]
{... no topo da montanha a pintura torna-se versátil. não há verde paolo veronés, nem azul prusia. o verde permanente virou terra. nesta aldeia, a terra é tostada, queimada, ocre, toda ela ainda coberta de branco titanio. na zangaria das cores, a serra cortou todos os caminhos e virou-se para o céu. fechou-se em si. escondendo todos os pigmentos no manto extenso deste inverno. não há opacidades nem transparências em tudo o que dela se vê. tudo é branco titanio. as aldeias são encerradas e as ruas fechadas. assim ficamos. sem verde paolo veronés, azul prusia, amarelo alaranjado ou carmim. tudo é branco titanio durante o dia e negro óxido à noite. assim ficamos, sentados nas memórias das cores. nós e a serra... à espera que a terra vire verde permanente... pintada de tierra sombra tostada. }
24.1.09
[...Mapas de Areia...]
{... percorremos aldeias feitas de pedra com sinuosas lareiras. trilhamos caminhos em contra mão com tantos outros viajantes. trilhamos a terra até ao fim da estrada. depois...tudo é areia. não há mais nada. tudo é... muito antes da pedra e do fogo: um mapa curioso. se pudessemos ser... casa de pedra, serra, mar ou planície para sempre, cruzariamos a vida sem medos ou sobressaltos. tranquilamente, até ao lugar onde e depois da última curva do mapa: tudo é areia. }
19.1.09
[ ... Quebrar A Serra... ]
{... trazidas pelo vento, as cores dão forma às palavras musicadas na imensidão da serra. esbatem-se as cores nos sons e o vento na terra... na superfície branca da tela e do papel, para que a escalada dos pigmentos se transforme em vida. musicadas as palavras a terra acolhe o tempo. escuta. espreita. isola. sempre. repetitivamente, em todas as suas variantes: tons diferentes. }
16.1.09
15.1.09
[ Ouro no Feminino:Obrigado Ana Vidal!...]
{... agradeço comovida o prémio Blog de Ouro que tão generosamente a escritora ana vidal me atribuiu. "é uma coisa de mulheres, um reconhecimento de códigos, de ambientes e de sensibilidades", escreve ana vidal sobre este prémio. e eu agradecida, penso como retribuir no vazio deste lugar, onde a internet mal funciona e só ás vezes é que dá sinal de si... bem no meio desta serra, onde tudo ainda está branco e o tempo teima ser... sem outras variantes: nevoeiro. é que nesta nova cidade das tintas... além das cores e das palavras impressas em cadernos de papel: nada mais existe! por isso, mesmo aqui à mão... tenho um dos livros de ana vidal. "seda e aço". abro o seu livro. leio um dos seus poemas, também ele intitulado "seda e aço" e, revejo os últimos tempos de lapis exilis. por isso, faço questão de publicar aqui este poema de ana vidal:
Seda e Aço
São poemas: desabafos
como a própria vida, incertos
Vão deixando, passo a passo
misturas de seda e aço
mágoas fundas, céus abertos
sem simetria ou compasso...
in Ana Vidal, 2005, DG Edicções.
14.1.09
[... Asas de Água... ]
{... quiseste voar até ao branco mais alto desta montanha. quiseste. quiseste flutuar no gelo lago deste lugar. e vieste... e levaste-me contigo por tanto quereres voar. sobrevoamos praias de água geladas, pintadas pela manhã fria. quiseste de tanto querer acordar-me, do alto das tuas asas para que eu mergulhasse no teu olhar. quiseste voar ao branco mais alto da montanha. quiseste... planar no misterioso lago de gelo que se esconde no alto da serra. quiseste. apenas quiseste, acordar-me das ilhas desertas, para levares-me contigo, nas noites que não consigo sonhar. quiseste voar e sonhámos que das tuas asas de água, no ponto branco mais alto desta montanha: matámos saudades das cores do mar. }
13.1.09
[... Nevoeiro... ]
{... escutar os sonhos que me conduzem a ti, é saber percorrer este caminho pintado de saudade. lá fora tudo é branco. a neve dilui-se no extenso nevoeiro e as cores sobresaem no interior de nós próprios. nada se vê para além do que existirá na tela. quem disse que o branco é nada?! quem o disse... nem sabe que o branco, é a saturação de todas as cores. é isso! lá fora há rodopios de cores agitadas em mil saudades de ti. para que servem os contornos, contrastes, brilhos e meios tons?... hoje, a serra adormeceu num outro sonho qualquer... de tão esquecida também ela de acordar. tudo é branco! penso em ti, e no rosto que te iluminará nos primeiros traços. escuto os sonhos. olho. não vejo nada. abro a luz e finjo que adormeço como a serra neste tempo perfeito. quem disse que o branco é nada?!... hoje, isolamos as cores e escondemos o medo do grande vazio que lá fora se avista. é isso!... }
10.1.09
[ Gracias Filipe Gomes:"À Alma Viajante" ]
{... como é teimoso o tempo que nos cruza, assim... e teimosamente nos volta a cruzar entre as mil viajens deste mundo. foi em 2005. decedidamente à busca de saber qual seria o trajecto de comboio até o tibete... que cruzei com o blog: alma de viajante. estava ele, no início da sua aventura. deixei-lhe palavras de coragem e agradeci todas as dicas que me enviou, de como se chegar ao tibete, sempre por terra. hoje, foi a sua alma de viajante que cruzou com o meu trilho dedicando também ele as seguintes palavras de animo: "Rede hoteleira ibérica promove arte: A Hoteles del Arte é a nova rede da Península Ibérica que visa promover artistas e os hotéis como locais de arte. Os fundadores são o Hotel Convento de S. Paulo, em Évora, Nautilus Lanzarote, em Lanzarote, e Hotel Palacio de la Serna, em Cuidad Real. A ideia nasceu pelo crítico Fernando Gallardo, do jornal El País. O projecto alia à estadia novas experiências culturais, promovendo os hotéis associados, o seu espólio artístico e eventos. A rede aceita quem “sinta o amor genuíno pela arte em geral, contemporânea em particular, em todas as suas formas”. Entre os artistas aderentes conta-se Alex e Teo Senra, Amaya Espinoza, José Seguiri, Juan Sukilbide, Maria Sobral Mendonça, Marijose Recalde, Nori Ushijima e Eugenio Bermejo". obrigado filipe gomes!... quanto ao tibete, está na calha. um dia, depois desta serra: instalo lá o meu atelier. }
http://www.almadeviajante.com/travelnews/002607.php
9.1.09
[ ...Cruzados À Sorte... ]
{... arribadas as lendas ao céu... esvoaçamos medos em praias desenhadas na calada da noite. sonhamos. subimos inseguros entre as nuvens que se juntam a este navegar. perto da rota estrelar tudo é pedra. não há versos nem poesia neste silêncio. tudo é Deus. cruzados à sorte, somos caminhantes das fantasias que nos trazem ao aconchego outros mundos... não há tempo que sirva a serra, sem que a serra não sonhe ser montanha, para que depois de tudo isso e do alto de toda ela: a neve não queira ser mar! o que seria do voo dos pássaros sem o medo de planar a vasta planície que nos trouxe a este lugar? arribados todos os medos, vencemos. vencemos as sombras que encorpam as caídas noites em amanheceres cobertos de densos nevoeiros. não há versos nem poesia neste silêncio: tudo é volumetria. somos, meramente um extenso deserto cruzado à sorte. somos pedra, areia, pó que volta sempre à montanha mal o vento sopre vida. somos cruzados à sorte: tendas erguidas ao céu!...}
5.1.09
[... Na Alma da Montanha... ]
{... embebidos na alma da serra, ateamos fogos cheios de cor a novos sonhos. há quem vá para a serra depois da planicie para alcançar a montanha da vida. há também quem fique sentado em sí para sempre. adormecido. ausente de sonhar. sem forças para trilhar todos os invisíveis caminhos que têm alma e cor. sómente porque todos os desertos são solitários. abrem-se as cores porque aqui tudo é mais distante do vazio. pensar o mundo sem o percorrer é morrer. é exactamente por isso que na alma da montanha, entre as pedras que se aproximam dos céus... há quem desenhe casas na escalada de todos os sonhos. }
2.1.09
[...Nas Águas do Tempo...]
{... na sapiência das cores, nunca te sentes para sempre na curva dos sentimentos. eles regressam sempre que o outono dobra a tristeza do pensamento. nunca faças das palavras o único canteiro da vida... porque todas as flores são pintadas pelas águas do tempo. na solitária montanha que cresce desta serra: refugiámo-nos do mundo. aqui, estamos sempre em viagem sem sair do mesmo lugar. é essa a filosofia de toda esta serra. pintados todos os versos, novos mundos acontecem. hoje... na escalada desta montanha até à pequena aldeia, soube que um pouco de mim... faz parte da tua viagem: obrigado portugal! obrigado por me levares contigo.}http://www.recife.pe.gov.br/2008/12/09/prefeito_recebe_comitiva_de_portugueses_165047.php
Subscrever:
Mensagens (Atom)