31.1.07

[...há festa em Tintas...]

http://mp3.juno.co.uk/MP3/SF249794-01-01-08.mp3
{... hoje, há festa em Tintas. porque hoje, há mais um quadro terminado! hoje, em Tintas, todos os pinceís se reunem. por breves instantes, também eles refrescam toda a sua azáfama. os senhores pinceís são trabalhadores incansáveis... só quando algum adoece é que a melancolia desce a esta cidade. mas hoje, é dia de recordar outros feitos, outros acontecimentos que também eles nos marcam para sempre... terminar um quadro é recordar uma parte do nosso tempo. é meditar em tudo o que aconteceu, minuto após minuto até ali se chegar. como se viaja tanto no tempo das cores, sem ingressos de partidas ou chegadas, sempre rumo a um misterioso destino. só mesmo eles é que têm esse poder em descobrir qual o momento - aquele exacto momento em que o algodão envolto de tinta se ausenta de si. se eu pudesse parar sempre que o cansaço desce á cidade das tintas... quantos quadros estariam já prontos?!... andaria eu, os senhores pinceís e as senhoras cores, sempre desfalecidos dos tons garridos, próprios da energia que nos faz viver neste voluntário retiro até que o início do próximo inverno se aproxime. até lá, há ainda o verão... e é com ele que as cores secam mais depressa. estou certa que haverão muitos mais dias de festa em Tintas. pelo menos, mais 20 terão que ser celebradas. se eu pudesse estar já no próximo inverno, sei bem o que faria! partiria de malas feitas sem pinceís, sem tintas ou superficies brancas de algodão. além de mim... apenas embarcaria um pequeno livro: o catálogo da nova exposição!}

26.1.07

[... Big My Secret...]

http://mp3.juno.co.uk/MP3/SF249794-01-01-05.mp3
{... em tintas, há pinceís desarmados de saudade. sim, também neles habitam sentimentos assim. todas as cidades têm os seus segredos. há ainda segredos sem cidades. há tantos segredos por revelar... como tantas são as cidades possíveis de inventar. mas colorir sem tintas é como habitar num despovoado. aqui, em tintas, o único agrupamento que se avista nesta planície são estes pinceís. estes, são os senhores desta cidade. todo o poder local depende da sua gestualidade. não há cunhas nem projectos favoritos adjudicados à pressa por defeito ou obrigação. ninguém se queixa nem tão pouco há zaragatas entre si. mas as cores, as senhoras cores, são as matrizes desta cidade. elas sim! ora se agrupam entre si, ora gritam slogans numa linguagem que os ouvidos não alcançam. e a razão de tudo isto é a cidade que aqui se vai projectando na solidão desta planície. só mesmo quando se agruparem todas elas (das cores à superficie do algodão onde se aninham), e já numa extensa parede construída noutra cidade é que será desarmada toda esta saudade. se eu pudesse espreitar a parede desse dia... o que será que hoje sentiria? não sei. mas se eu pudesse...}

12.1.07

[... cidade lugar...]

http://mp3.juno.co.uk/MP3/SF244790-01-01-01.mp3
{... além do tejo - "Nas tintas"-, é uma imensa planície cheia de odores e cores. é a minha cidade lugar. é aqui que habitam as novas telas para a próxima exposição. aqui... os habitantes são senhores pínceis, bezerros, veados, ratos, gatos, cães, morcegos, aves brancas migratórias, sapos, rãs, toiros, vacas e aranhas de todas as cores e tamanhos!... sabias que há aranhas verdes alface aqui nesta cidade lugar? pois se eu soubesse que as aranhas já se pintavam de verde alface muito antes de eu chegar aqui... que as vacas choram a ausência do sol; os ratos gritam de liberdade em correria pelo campo na ausência de gatos; o veado salta a cerca com medo do gado; as aranhas verde alface gostam do cheiro das tintas; as aranhas pretas cabeludas gostam da água onde se lavam os pinceis ; as lesmas são atraídas pelo verniz das telas; o vendedor do pão chega às 6 horas da madrugada ainda em directa do seu trabalho, e que o céu quando repleto de estrelas, cada dia que passa está cada vez mais perto das nossas cabeças... há muito que já tinha mudado as tintas do meu atelier para este lugar!...}

6.1.07

[... nas tintas...]

http://mp3.juno.co.uk/MP3/SF231215-01-01-10.mp3
{... nas tintas é um local no Alentejo onde habitam actualmente os meus pinceís. nas tintas, há também um charco e ainda uma estrada que atravessa toda a planície. colorir ideias, esboços, desenhos e telas... é a missão dos habitantes nas tintas... é também, um local onde a banda larga não funciona. aqui... só precisamos de pinceís. não se vê televisão nem se enviam imagens em telefones da 3ª geração! nas tintas, o céu à noite -principalmente quando está repleto de estrelas-, parece quase tombar em cima das nossas cabeças. nas tintas... é onde vou ficar até que estejam prontas - uma a uma-, todas as telas que venho uma vez por semana buscar a Lisboa. é nas tintas que o trabalho flui!... o silêncio e o vasto horizonte dão mais cor ao algodão das grades que quase sempre, aparentam estar carentes de figurar de uma vez só, todo o mundo que se foi para além deste charco, e desta estrada que atravessa toda esta planície. nas tintas... é sem dúvida, o lugar dos lugares onde a vida nunca se ausenta de todas as suas cores.}

2.1.07

[...Jerumenha...]

http://mp3.juno.co.uk/MP3/SF207011-02-01-05.mp3
{... no alto de jerumenha... Foi no alto de jerumenha que anoiteceu o primeiro dia do novo ano. O que terá sentido D. Sancho II na conquista desta fortaleza?!... na realidade não sei. Será que tudo aquilo que se vê, tem sempre o mesmo sentido quando se olha?... Deste ponto mais alto, bem em cima de uma torre que o tempo já desconhece... vai ser erguido um novo hotel de charme. Talvez nesse dia, tenha eu tempo para pensar o que ainda se avista dele!... Nesse dia que está para muito breve, afastado de outros tantos dias já ausentes das batalhas que outrora encantavam tantas outras gentes, mas que afinal, ainda hoje despertam presentes discórdias em tudo aquilo que daqui se vê. Se conquistar, depende sempre do modo como se vê... então, tanta outra coisa eu vejo, sem que daqui lhe possa realmente tocar. Que não caia o que desta fortaleza resta e, que tudo aquilo que dela se erga, seja realmente digno do encanto que habita faz tempo neste ainda silêncioso lugar! porque... nem todas as fortalezas precisam de recatar suas velhas memórias em castelos de encantar.}